DECLARA\307\303O DA DIREC\307\303O DA ASSOCIA\307\303O DOS ESTUDANTES DA FACULDADE DE CI\312NCIAS DE LISBOA I 1 - NO DIA 14 DE OUTUBRO. POR VOLTA DAS 19 HORAS, FOI PRESA NA RUA (NO INTENDENTE) A PRESIDENTE DA NOSSA DIREC\307\303O. MARIA DA GL\323RIA TAVARES DE MAGALH\303ES RAMALHO. Tendo obviamente protestado de viva voz perante tal arbitrariedade, foi empurrada violentamente para o interior de um carro celular, tendo a policia dispersado \340 cacetada in\372meros populares que entretanto se tinham concentrado \340 volta, nitidamente indignados com a pris\343o. No mesmo dia (dia do funeral do Ribeiro dos Santos, o nosso camarada assassinado) foram presas mais 19 pessoas, entre os quais 13 estudantes. Desde ent\343o at\351 \340 presente data, a Gl\363ria continua presa. 2 \u2014 NO DIA 17 DE OUTUBRO. POR VOLTA DAS 7 HORAS DA MANH\303, FORAM INVADIDAS AS CASAS DOS 4 ELEMENTOS DA NOSSA DIREC\307\303O PERTENCENTES \300 "EQUIPA DIRECTIVA": A Gl\363ria, o Aur\351lio Silva, o Pedro Ferraz de Abreu e a Olga Moura. Em casa da Gl\363ria, os pides tocaram \340 porca e disseram que era para "entregar um telegrama". Uma vez transposta a porta, identificaram-se como pides, o mostraram um mandato de captura, ao que os pais da Gl\363ria perguntaram como \351 que eles iam fazer para prender uma pessoa que j\341 estava presa. Os pides n\343o acreditaram, e telefonaram para os seus chefes, que lhes confirmaram o facto. Ent\343o, passaram uma busca a pente fino \340 casa, levando no fim um di\341rio de uma viagem de curso e um caderno de telefones... Em casa do Aur\351lio, as pessoas estavam \340 espera de um enfermeiro. Ouvindo tocar \340 porta, perguntam: "\311 o sr. enfermeiro?" ao que os pides respondem: "\311 o senhor enfermeiro, \351!" e entram. Puxam dum mandato de captura, acordam o Aur\351lio, prendem-no, e passaram uma busca de 3 horas e meia, levando no fim todos os documentos associativos que encontraram. O mandato de captura, ao que parece semelhante aos outros tr\352s, invocava "actos subversivos", nomeadamente os artigos 160 e 167. Em casa do Pedro Ferraz de Abreu, os pides identificaram-se e mostraram um mandato de captura. Como a fam\355lia n\343o lhes abrisse logo a porta de par em par, um dos sujeitos fez men\347\343o de apontar uma arma, que logo recolheu, perante a pergunta dos pais se eles agora estavam dispostos a assassinar toda a gente. Acabaram por for\347ar a entrada; por\351m nessa altura, o nosso colega n\343o se encontrava em casa. A pide instalou-se ent\343o l\341 dentro, impedindo a sa\355da aos familiares durante algum tempo, para que estes n\343o o pudessem avisar da armadilha. Esta medida foi ali\341s in\372til pois que, ao saber-se que estavam a ser presos elementos da Direc\347\343o, logo, em pronto movimento de solidariedade, dezenas e dezenas de estudantes se colocaram em torno das casas daqueles que n\343o tinham ainda sido presos, para os avisar. A pi\255de n\343o conseguiu os seus intentos e o Pedro Ferraz de Abreu n\343o apareceu. Nada foi levado pelos pides de sua casa. Em casa da Olga, tr\352s pides sa\355dos de um luxuoso carro branco bateram \340 porta e apresentaram um mandato de captura. Levaram presa a Olga mas n\343o realizaram a busca que pretendiam pois o pai dela, coronel, recusou-se a que a sua casa fosse revistada, sem que houvesse um mandato de busca do quartel-general. Estes tr\352s nossos colegas continuam, at\351 \340 data, presos em Caxias. Foram tamb\351m presos, no mesmo dia e em circunst\342ncias semelhantes, tr\352s membros da antiga Direc\347\343o da Associa\347\343o do T\351cnico (Por um Ensino Popular), existindo mandatos de captura para mais 2; no dia seguinte e em circunst\342ncias ainda desconhecidas 4 membros da Direc\347\343o da CPA de Medicina. 3 \u2014 NO DIA 28 DE OUTUBRO. POR VOLTA DAS 17 HORAS. FORAM AS SALAS DA ASSOCIA\307\303O (AO LADO DA PAPELARIA DA AE) CONHECIDAS PELO NOME DE \u201cSALAS DE ALFABETIZA\307\303O" INVADIDAS, SAQUEADAS E SELADAS PELA POL\315CIA. A invas\343o policial foi t\343o aparatosa e o acto t\343o injustific\341vel, que as autoridades acharam melhor fazer sair uma nota nos jornais a esse respeito, onde embrulham os p\351s pelas e caiem no rid\355culo; falam no encerramento compulsivo a logo se desculpam ali\341s, era para obras j\341 previstas. No interior dessas salas, encontrava-se diverso Material, numerosas folhas de estudo, material da papelaria, m\341quinas de escrever, comunicados associativos, etc. que pertence aos estudantes e estava \340 guarda da Direc\347\343o da Associa\347\343o. Os estudantes foram novamente roubados (tal como no encerramento da Associa\347\343o em Maio 71)... pela pol\355cia. 4 \u2014 ENTRETANTO AS AUTORIDADES INSTAURAM NA FACULDADE UM CLIMA DE TERROR. A faculdade mais parece uma caserna: pol\355cia de sentinela \340 porta da faculdade, permanentemente, controle de cart\365es \340 porta por cont\355nuos-pides ou mesmo pides. Dentro da faculdade um clima de intimida\347\343o: impede-se a liberdade de informa\347\343o, os professores e cont\355nuos amea\347am de processos disciplinares e suspens\365es todos os estudantes que pretendem solidarizar-se com o protesto pelo assass\355nio cobarde do Ribeiro Santos pela pide; por sua vez, e como \351 natural, isto cria um clima de sobreexcita\347\343o entre estes estudantes, o que por vezes faz com que se agrave o clima de medo entre alguns colegas caloiros, j\341 de si intimidados pelo autoritarismo dos professores e confundidos com a situa\347\343o. E por fim, cenas do mais puro estilo nazi: cont\355nuos-pides dentro da faculdade e amea\347arem, de navalha em punho, estudantes associativos; N\343o chegou, ao que parece, assassinarem cobardemente o nosso camarada Ribeiro Santos. Decididamente, A Universidade est\341 a saque dos assassinos: eis, pelos vistos, a pol\355tica das autoridades. E ainda h\341 quem tenha a pouca vergonha de declarar que quem quer instaurar o clima de medo s\343o os que protesta contra este assass\355nio. 5 \u2014 PARA CULMINAR A POL\315TICA DE ATERRORIZAR OS ESTUDANTES, AS AUTORIDADES EXERCEM MAIS UMA VIOL\312NCIA: VINTE ESTUDANTES S\303O ARBITRARIAMENTE SUSPENSOS (\u201cPREVENTIVAMENTE\u201d) E S\303O-LHES INSTAURADOS PROCESSOS DISCIPLINARES. Eis as notas: COMUNICADO O Conselho Escolar, em face dos graves acontecimentos que se v\352m desenrolando na Faculdade, desde 5\252 feira passada, dia 26, entre os quais o de impedimento e interrup\347\343o de aulas, decidiu: 1. - Instaurar j\341 processos disciplinares aos seguintes alunos: Fernanda Maria da Piedade Domingues Pedro Manuel Barbosa Ferraz de Abreu Ana Paula da Silva Vasconcelos Ana Maria dos Santos Quintalo da Cunha Ant\363nio Joaquim de Jesus Sousa Ana Cristina Botto Moreira de Barros Jorge Miguel Alberto de Miranda 2. - Suspender preventiva e imediatamente os mesmos alunos 3. - Averiguar das actividades de outros alunos nos acontecimentos dos \372ltimos dias. FACULDADE DE CI\312NCIAS DE LISBOA, 31 DE OUTUBRO 1972 O CONSELHO ESCOLAR COMUNICADO N\272 2 O Conselho Escolar, nos termos do n\272 3 do COMUNICADO anterior, deliberou, em Sess\343o que continua a precedente, instaurar igualmente processos disciplinares aos estudantes; Augusto Arnaldo Nunes Otero Taveira Carlos Augusto Monteiro Carneiro Carlos Manuel Azevedo de Sousa Oliveira Celestino do Carmo Rodrigues Coutinho Jos\351 Mendes Nobre de Gusm\343o Maria de Lourdes Fidalgo de Mesquita Maria Margarida Gomes Fragoso Mendes Maria do Ros\341rio Cardoso Sim\365es Maria do Ros\341rio Gon\347alves Cotovio Orlando Cardoso Gon\347alves Paulo Manuel Caetano Abrantes Vanda de Andrade Tavares Silva Vasco Henrique Moura Lupi e Costa e suspende-los tamb\351m preventiva e imediatamente, sem preju\355zo de continuar as averigua\347\365es referidas naque\255le n\272 3. O CONSELHO ESCOLAR Entre estes 20 colegas h\341 pois 2 que s\343o da Direc\347\343o da Associa\347\343o dos estudantes: o Pedro Ferras de Abreu e a Ros\341rio Sim\365es. O Conselho Escolar, curiosamente, resolveu levantar uma das suspens\365es: diz ele que "foi engano"... COMUNICADO N\272 3 Havendo-se reconhecido que a estudante Ana Cristina Botto Moreira de Barros, figura, por engano, na lista dos alunos indicados no Comunicado n\272 1, o Conselho Escolar, na sua Sess\343o de 3 do corrente, deliberou levantar-lhe a suspens\343o anunciada. FACULDADE DE CI\312NCIAS DE LISBOA, 6 DE NOVEMBRO 1972 O CONSELHO ESCOLAR II Porque foram presos elementos da Direc\347\343o da AE e suspensos 20 estudantes a) AS CIRCUNSTANCIAS DA PRIS\303O DA GL\323RIA. No dia 12 de Outubro, os estudantes de Econ\363micas localizam no seu instituto um indiv\355duo suspeito, que tinha em seu poder um aut\352ntico relat\363rio de provocador e bufo sobre a actividade da Associa\347\343o. Depois de in\372meras contradi\347\365es (3 nomes falsos, que era vendedor de tapetes, etc.) o tipo acaba por confessar que pertence \340 DGS (ou seja, que e pide). Querendo saber ao certo qual a sua identidade, os estudantes intimam as autoridades escolares a procederem \340 identifica\347\343o. Estas telefonam para a DGS e, n\343o contentes por enviarem um bufo provocar e espiar os estudantes, fazem aparecer agora outros dois, desta vez armados, no interior do instituto; claro que n\343o vinham para confirmar que o indiv\355duo era pide. Ao contr\341rio dos dirigentes associativos oportunistas de Econ\363micas, que conferenciaram amenamente com os pides e que se dispuseram incrivelmente a acompanhar os pides at\351 \340 sala onde se encontrava o pide, os estudantes presentes ficaram vivamente indignados com a presen\347a, desta vez descarada e provocat\363ria de mais dois pides. Aqueles que agridem, prendem e torturam arbitrariamente in\372meros colegas nossos e trabalhadores que combatem pelo p\343o e pela liberdade do povo, e j\341 assassinaram mesmo v\341rios deles (como recentemente o Daniel Teixeira) n\343o se lhes podia permitir que entrassem impunemente na universidade; \351 assim que os estudantes presentes se lan\347am aos pides dispostos a expulsa-los firmemente da sala. Por\351m perante o grito trai\347oeiro de um dirigente oportunista de "calma! calma!\u201d, alguns dos estudantes hesitam; um dos pides tem ent\343o tempo de sacar da arma apontando e disparando dois tiros sobre o estudante mais pr\363ximo. Este tomba atingido pelas duas balas na coluna: era o Jos\351 Ant\363nio Ribeiro dos Santos. Alguns estudantes fogem, outros atiram-se ao ch\343o. Ao ver o seu colega tombar e o pide disposto a continuar a chacina, outro estudante lan\347ou-se corajosamente ao assassino tentando desarma-lo; o pide consegue no entanto ir despejando o carregador, atingindo com dois tiros a perna do estudante. Este nosso colega \351 o Lamego, actualmente incomunic\341vel no hospital pris\343o \u2014 possivelmente, acusado do "crime\u201d de ter evitado corajosamente que a pide fizesse uma chacina. Apesar de na altura haver apenas uma escola em aulas apesar das brutalidades da pol\355cia de choque, foram milhares os estudantes e trabalhadores que manifestaram a sua revolta e a sua indigna\347\343o no funeral de Ribeiro Santos. Como durante o dia todo v\341rios grupos de centenas de pessoas se manifestaram nas ruas da cidade, a pol\355cia resolveu passar a uma intimida\347\343o mais directa: prender gente na rua a torto e a direito. Eis as circunst\342ncias da pris\343o da Gl\363ria, acusada pois inicialmente de "ter pedras nos bolsos" (o que diga-se de passagem, era falso).